quinta-feira, 28 de outubro de 2010

PERIPÉCIAS E CONCLUSÕES


PERIPÉCIAS

Olhando agora para trás, acho que esta viagem foi, ela mesma, uma autêntica peripécia. A generalidade dos caminhos por onde passei são acessíveis a quem pratique Btt com alguma regularidade. Se juntarmos cerca de quinze quilos de carga, a complexidade aumenta. Se considerarmos, ainda, fazê-la sozinho, poderá parecer um quebra-cabeças.

A preparação que fiz parece-me ter sido crucial para não ter tido qualquer momento de desânimo e muito menos, de vontade de desistir. Senti as maiores dificuldades quando fiquei constipado a partir do 3º dia da segunda parte. Contudo tive a sorte de a constipação não se ter propagado às vias respiratórias inferiores, certamente graças aos antigripais e anti-inflamatórios que tomei de imediato.

Já estava habituado ao transporte da carga que apenas passou a condicionar o andamento, sobretudo nas subidas. Sabia que apenas demoraria um pouco mais de tempo. Mantive sempre grande controle sobre a fadiga, controlando as pulsações cardíacas, não atingindo níveis de cansaço elevado e alimentando-me com método.

A facilidade de operar com o GPS e a sua fiabilidade, foram fundamentais para não perder tempo com a navegação. Com métodos clássicos teria cometido muitos erros e perdido muitas horas. Há sítios de navegação muito difícil, nomeadamente, eucaliptais, estradões novos e cruzamentos confusos. A carta topográfica no GPS foi muitas vezes a grande ajuda.


EU E OS ÓCULOS…

Apesar de já me serem indispensáveis, tenho um relacionamento de desinteresse com eles, pelo que os deixo em qualquer lado. Uso progressivos normais e de sol. Durante a primeira parte usei sempre os de sol. Na subida para o Centro Geodésico de Portugal, em Vila de Rei, porque a chuva era muita, tirei-os e coloquei-os no porta-bagagens do guiador. Contudo, ficaram mal acondicionados e caíram. Por volta das 23 horas, em casa, lembrei-me de que não os tinha visto no final, procurei-os, e nada… Meti-me no carro e fui a Vila de Rei procurá-los e encontrei-os, mas no estado que a fotografia acima documenta…


Na segunda parte da travessia tive que sobreviver sem os óculos de sol graduados. Quando necessário, usava os graduados normais e depois, uns de sol não graduados. Ao Almoço em Juromenha precisei dos óculos para ver a ementa, mas a caixa estava vazia. Vá lá, tinham ficado em Monsaraz…


ONDE VOU DORMIR?

Fazia parte da aventura a não programação dos locais de dormida. Tudo correu sempre bem. Contudo, tinha-me parecido que em Albernoa haveriam várias alternativas para dormir, mas de facto, nem uma pequena residencial… O dono de um pequeno café ofereceu-me uma casa desabitada, mas não tinha água quente… Continuei e minha procura até que parei num enorme lar de terceira idade. A Directora, uma Irmã, imediatamente se disponibilizou para me dar dormida. Depois de muita procura, fiquei numa sala com casa de Banho contígua e num sofá cama e digo-vos que já tenho dormido bem pior… A irmã ofereceu-me ainda cobertores e jantar que não se enquadrava na minha dieta… Foi a única vez que usei o saco-cama.


POR FAVOR… ESTOU NA DIRECÇÃO CERTA PARA…

Nunca senti real necessidade de fazer perguntas aos locais sobre o meu itinerário. Contudo, para provocar conversa, fi-lo muitas vezes. Quando as fazia a grupos provocava, geralmente, autênticas disputas entre eles sobre o melhor caminho. Cheio de vontade de rir, prosseguia, por vezes, para o lado contrário da indicação dada…



CONCLUSÕES


O NORTE E O SUL

É difícil dizer se gostei mais do Norte ou do Sul. São realmente muito diferentes. Há, contudo, aspectos comparáveis. O Norte é muito mais barato que o Sul. No norte as dormidas são mais baratas cerca de 25%, mas de um modo geral são de pior qualidade. Uma refeição completa no Sul custa praticamente o dobro do Norte e é de pior qualidade. No Norte nunca tive necessidade de comprar água (consumia 4 a 5l por dia). No sul tive que a comprar a maior parte dos dias e a que preços…. Achei as pessoas do Norte mais interessadas, simpáticas e hospitaleiras. No Sul era frequente andar 20km e mais sem encontrar uma aldeia ou uma pessoa. No Norte, isso é menos frequente e há mais oferta de alojamento e restauração.


No Norte, a média de gastos diários situou-se abaixo dos 40Euros, mas no Sul ultrapassou os 50Eur.


DO QUE MAIS GOSTEI.


DORMIDAS


- Saramago – Casa de Monsaraz, em Monsaraz

- Albergaria Bética em Pias


REFEIÇÕES


- Bochechas com migas, no Petiscos e Granitos em Monsanto

- Achigã no Café do Mercado em Salvada


LOCALIDADES E VILAS


- Castelo De Vide

- Monsanto


PERCURSOS


- De Castelo de Vide até ao Rio Tejo

- Parque Natural e Montesinho

- Canal do Rogil


PAISAGENS


- Douro Vinhateiro

- Praia da Cordama

- Serra do Espinhaço de Cão


O QUE MAIS ME INTRIGOU
Passei em três grandes complexos hídricos vocacionados para a irrigação que são Meimão, Ladoeiro e Rogil. Junto daqueles complexos não vi qualquer actividade agrícola. Apenas em Rogil vi +/- 100m2 de batata doce.

O Complexo da barragem do Alqueva parece estar em desenvolvimento, mas as únicas culturas visíveis são Olivais (na maioria de empresas espanholas, segundo me diziam) e Vinha.


AO FIM E AO CABO…

Sinto-me muito satisfeito com a forma como esta viagem decorreu. Não a trocaria por outra a qualquer resort no estrangeiro. Estive sempre dependente de mim próprio e respondi bem ao desafio. Foi uma daquelas coisas que se fazem uma vez na vida.

Percorri 1192Km em 14 dias.

A preparação foi essencial para ausência de incidentes. A força de vontade, a perseverança, o espírito de luta foram os principais ingredientes para a conclusão com sucesso.

Já me pergunto qual será a próxima aventura, mas não tenho resposta. Este ano está quase no fim, pelo que só para o próximo ano outros projectos tomarão forma. Fazer mais um Caminho de Santiago é uma probabilidade a que vou, certamente, querer juntar outras aventuras pouco comuns.



VOLTEM AO BLOG PORQUE VOU CONTINUAR COM NOTÍCIAS, AINDA QUE NÃO RELACIONADAS COM A TRAVESSIA.

domingo, 24 de outubro de 2010

MISSÃO CUMPRIDA


Depois de umas boas horas de descanso, cá estou eu de volta para falar sobre o dia de ontem.

Para que tudo corresse bem, ás 8,30h já pedalava pelas ruas de Castelo de Vide. A saída da linda vila foi por uma das portas do castelo a que se seguiu a calçada com degraus que estava sequinha e a convidar a deixar andar. Não fosse a carga, teria sido ainda muito mais divertido. Seguiram-se excelentes pistas interrompidas oito vezes com o abre e fecha portada. Depois de 30Kms percorridos, veio alguma dureza entes de Salavessa, mas depois foi quase sempre a descer até ao Tejo e com uma paisagem linda. Mais alguns kms ao lado do Tejo e estava em Vila Velha a admirar as Portas do Ródão.

A ligação com a primeira parte da travessia fez-se, pelas 13h, na localidade de Perdigão, mas depois de 10kms, quase sempre a subir. Até a casa, sempre por alcatrão, foi um instante.

Cumpri o objectivo e estou muito satisfeito.

Voltarei nos próximos dias para falar de algumas peripécias da viagem e conclusões.

Mais fotos em:

http://picasaweb.google.pt/109926906196114610293/20101024?authkey=Gv1sRgCNDY9IfM3Yqw2QE#

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

POR ENTRE CARDOS E RESTOLHOS


O dia começou com caminhos típico do Alentejo. Vedações e mais vedações… abri e fechei 14 portadas. Ao km 16 o meu caminho entrava pela barragem de Abrilongo dentro. Para contornar o braço da barragem andei cerca de 2km, a pé, por entre cardos e restolhos, mas estava bem disposto e não custou nada. Mais três Kms o mesmo problema… desta vez, devido à densa vegetação, optei por encontrar caminhos alternativos que somaram cerca de 5km.

Já tinha passado por Degolados, Nossa Senhora da Graça e Hortas de Baixa. Esperança era a única alternativa para almoçar. As opções de almoço eram poucas e não do meu agrado. Comi um pouco e prossegui viagem, na companhia da minha incomodativa constipação. Até Alegrete foi sobe e desce.

Para Castelo de Vide, onde me encontro, faltavam cerca de 30Km sempre no Parque Natural da Serra de S. Mamede em violentos sobe e desce…

Lá cheguei a Castelo de Vide, depois de 87Km e muito suor.

Amanhã será o último dia da Travessia. Estou certo que a constipação não me vai impedir de fazer a ligação à primeira parte da travessia, apenas com pequenas paragens, para o que já fiz reforço de provisões. A meio da tarde, estarei no Carrascal, a minha aldeia Natal, ... espero.

Mais fotos em:

http://picasaweb.google.pt/109926906196114610293/20101022?authkey=Gv1sRgCLys_7_VpoOeaQ

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

NA TERRA DO CAFÉ

O dia começou com um excelente pequeno almoço na companhia de um simpático casal que também ali estava hospedado.

Logo à saída de Monsaraz, uma paragem para uma foto no Convento de Orada. Seguiram-se cerca de 25 quilómetros rolantes, mas de muito mau piso. Depois da Mina do Bugalho veio Juromenha, onde almocei. Foi aqui que me despedi da Barragem de Alqueva, passando mesmo juntinho à Água. Mais pistas rolantes e estava em Elvas.

A última etapa de cerca de 20 kms foi mista de terra e alcatrão. Contudo, os último 8 kms foram num belo caminho, sempre em subida suave. Cheguei a Campo Maior, onde me encontro, com o pôr do Sol, pelas 18,30h.

Foi uma longa etapa. Muitos espaços sem população, num constante abre e fecha portadas. Percorri 104 Kms em 7h e 10m.

Mais fotos em:

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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

5º DIA - NO CORAÇÃO DO ALENTEJO

À sétima tentativa, lá consegui um lugar para ficar. Não é que os outros não tivessem disponibilidade, mas porque, enquanto tivermos capacidade de escolha, apenas devemos aceitar o que se enquadra nos nossos interesses. Estou numa aldeia ao lado de Monsaraz, Telheiro, na Saramago, Casa de Monsaraz. Não costumo falar disto, mas estou num quarto de “Rei”, como disse quem me atendeu. Nem sei se quem me atendeu é ou não o proprietário, mas comparar a forma como o fez com os outros casos… é comparar o Sol com a escuridão. Vou cá voltar.

Quanto ao dia de hoje, foi alentejano… até S. Amador. Sempre acima de 20 à hora até chegar ao Rio Ardila. A travessia do rio, cerca de 20 metros, em cima de calhaus rolados super escorregadios deu direito a banho de pés com a respectiva troca de meias logo a seguir, não vá a constipação agravar-se ainda mais.

Ao km 50, depois de mais um furo, estava a ver a barragem de Alqueva e a contar quilómetros para Mourão aonde almocei. Até Monsaraz foi um saltinho.

Fiz cedo a minha boa acção de dia. Pouco depois de ter saído de Pias, ajudei uma ovelha a libertar-se de uma rede. Não foi muito fácil porque estava bastante ferida no pescoço e muito agitada. Ela ficou contente porque logo desapareceu e eu também fiquei contente!

Foram 86km, muito calmos, em 5h e 15m.

Mais fotos em:

http://picasaweb.google.pt/109926906196114610293/20101020?authkey=Gv1sRgCMm04aa9m67kNg#5530228170100808946

terça-feira, 19 de outubro de 2010

4º DIA


O dia começou com caminhos sinuosos, de sobe e desce e mau piso.

Em Trindade travei conversa com um Sr. que me ia contando a vida dele toda.

Em cabeça Gorda havia um bomba de gasolina e aproveitei para remendar dois furos.

Almocei em Salvada. Nunca tinha comido achigã, grelhado escalado estava óptimo, mas não terei comido Robalo? O Sr. garantiu que era achigã…

Depois de Salvada, já parecia que estava no Alentejo. Longas rectas sempre a direito, mas com vento de frente… Contudo, não tardaram as subidas e descidas mais agressivas.

Lá cheguei, enfim, a Pias com entrada sobre a linha de comboio desactivada.

Cheguei pelas 18 horas depois de percorridos 62Km, sempre em terra.

Mais fotografias em:

http://picasaweb.google.pt/109926906196114610293/20101018?authkey=Gv1sRgCKvN0ebjqu35Hw#

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

3º DIA - DE SOL A SOL

A etapa que programei para hoje, foi muito exigente. Os primeiro 40 km, até à Barragem Monte da Rocha foi um sobe e desce impressionante, por vezes por entre silvados e quase sempre maus pisos.

O mau feitio do dono do café na barragem do Monte da Rocha, que com dificuldade me fez o almoço, teve em mim efeito contrário, fiquei muito bem disposto. Logo a seguir, chegou finalmente o Alentejo. Subidas e descidas menos exigentes, mas foi uma autêntica gincana pelos sulcos dos tractores e a fugir das pedras soltas. De uma delas, não conseguir fugir… e toca substituir a câmara de ar.

Foi o dia das barragens, Santa Clara, Corte Brique, Monte da Rocha, são apenas aquelas de que sei o nome. Corte Brique, e Garvão foram as principais localidades, mas montes passei por muitos.

De manhã a temperatura era de 14º e quando cheguei aqui, 16º.

De Santa Clara até aqui, Albernoa, foram 96Km e 7,05 horas de pedal.

Hoje não consigo carregar fotos no Picasa porque só tenho 2G.